Ele fala para ela e é sobre ela que lhe diz. Com a lógica fria de quem expõe um raciocínio, mas as palavras são delicadas, escolhidas até, como se a desenhasse com os dedos, mas de longe, assim de longe.
Ela escuta sem se deixar perturbar. Ele fala-lhe dela como se falasse da personagem de um livro que o tivesse fascinado e ela escuta sem o menor constrangimento ou traço de rubor, a personagem tem o seu nome e é só.
E quando ele se suspende, ela pede mais, com uma ingenuidade estudada ou só genuína mas velha, já não sei. E adiante perguntará como assim?, como se não tivesse entendido, mas é só a avidez que não cala e remorde. Porque a vaidade não tem fim, nascida irmã do medo fundo. O paradoxo de se ser tudo e tão pouco, caminhando em bicos de pés, mas de olhos baixos, expiando culpas.
No entremeio, ele estica os dedos, querendo tocá-la. Ela retrai-se, o fácies tenso, agressivo, o olhar leonino, o sobressalto.
Não é amor, é somente a sedução do impossível, a vontade de tocar o que é longe e intangível. E depois partir. E o abraço de hoje haveria de doer amanhã, mossa que ficou de uma intimidade vã, descartável.
Diz-se da lágrima de uma sereia que é um tesouro. Buscá-la é coragem ou cobardia?
Elisabete,
ResponderEliminarSempre reconheci uma enorme qualidade na tua escrita, mas ela agora está mais segura, mais adulta, evidenciando capacidade para empreendimentos com outro fôlego.
É sempre um grande prazer ler-te.
Beijo :)
diz-se de todas as lágrimas
ResponderEliminarhoje e amanhã
depois de amanhã, não! porque é Natal
um beijo E.A. tudo de bom para si
manuela
Quantas saudades tinha de voltar ao teu cantinho, à tua escrita!
ResponderEliminarHá sempre um amanhã. Procura, sim, essa lágrima de sereia.
Um Bjinho.
Isabel
na transparência de um abraço
ResponderEliminartenha um ano feliz, E.A.!
Descobri este blog há pouco tempo numa mistura de intenção e acaso. Não li tudo o que escreveste. Li apenas bastante. Este foi o melhor que li. Extraordinário, na minha leiga opinião.
ResponderEliminarElisabete,
ResponderEliminarQue 2012 seja, para ti, um ano de muitas conquistas.
Beijo :)
O fascínio das palavras ditas e por dizer, a ternura envergonhada e a sensualidade contida num maravilhoso exercício de escrita.Nada está esquecido.A vida impõe pausas, também ela imponderáveis.
ResponderEliminarFeliz 2012, Elisá!