A Lycra do maiô caía na pele como se também fosse. Pele.
Era a nudez absoluta das linhas do corpo: os seios, a concavidade da cintura, as pernas bem torneadas numa distinta anatomia.
O colo bonito, antecâmara de um rosto de linhas vincadas com suavidade, rainha do gelo.
O cabelo apanhado, colado ao crânio, a mesma intransigência que lhe forja o olhar na distância.
Pulsos brancos, tão finos, que são a marca de uma delicadeza que lhe desce pelas mãos de dedos longos, candelabros sem chama, que a beleza é fria e nela não tocarás.
E a linha das clavículas que é o verbo mais-que-perfeito no corpo de uma mulher.
Quando se ergue em pontas de gesso, sustém a respiração e os dentes cerram-se com força, porque dói. Mas está um palmo acima de si e talvez seja capaz de olhar deus nos olhos. O cetim esconde pés ensanguentados. Tudo é belo nela excepto os pés. Os pés nus, deposta a máscara, gritam de dor.
A silhueta de uma bailarina.
perfeita
ResponderEliminara pintura de uma bailarina!
um palmo acima de mim, sinto-me
ao ler este texto, E.A.
bom estudo!
um beijo
manuela
Elisabete,
ResponderEliminarQue magnífica descrição do corpo de uma bailarina. E que forma tão delicada de apresentar a adversidade de quem sofre a perda da sua ferramenta de trabalho. Isto poderia acontecer com as mãos de um pianista ou de um cirugião. A escritora em simbiose com a médica é enternecedora.
Beijinho
Caldeira
Texto muito marcado, como a descrição que faz. Vai ao osso duma gramática completa, complexa. Parabéns!
ResponderEliminarengraçado acompanhar a tua evolução, desde que aqui passei pela primeira vez à muito tempo, até hoje. gosto sempre muito de aqui passar.
ResponderEliminarNão pense que me desliguei da bailarina das palavras certas, numa dança quase esotérica. O texto transportou-me para o Cisne Negro e senti um arrepio.
ResponderEliminarPS. Tenho tido muitos problemas com o blog e não tenho conseguido entrar nos habituais, excepto num ou dois.E só como anónima. Pelo sim pelo não, fica aqui um beijo com a assinatura da Ibel.
Já acabou o ruído e a confusão do S. João.Agora é outra a música -"leve, breve, suave, um canto de ave sobe no ar com que principia o dia"- aqui mesmo encostado à língua de luz que abraça o silêncio. É só claridade o que amanhece. Vou dormir. São seis horas e trinta e seis minutos. Apetecia-me ser bailarina outra vez.Ou talvez ave. Não sei bem a frontreira entre as duas.
ResponderEliminarElisabete,
ResponderEliminarÉ verdade que ultimamente não tenho comentado muito, mas não tenho deixado de vir. Sabes, tu cresceste, cresceste muito, já não precisas do meu apoio. As tuas asas dimensionaram-se, ganharam segurança, sentem-se capazes de amplos voos. Continuarei a aplaudir, mas agora dissimulado por entre os outros.
Bons voos!
Beijo :)
E os olhos acompanham a leitura como o olhar percorre o corpo, em detalhes, de cima para baixo. E nos dobramos. Ajoelhamos para ver melhor. Ver melhor. Vermelho. O sangue colorindo a cena. Terminamos a leitura de joelhos, porque é de joelhos que o teu texto deve ser lido.
ResponderEliminarAbsoluta: candelabros sem chama, que a beleza é fria e nela não tocarás.