Ouvem-se azuis na noite. E, na hora sonâmbula, ela sente
dedadas frias na pele e sabe que há-de cuspir a alma pelos olhos molhados até
adormecer de cansaço. A loucura que os deuses ofertam como abrigo entre os nadas
e as solidões.
Sempre que adormecer na brisa, haverá alguém que a carregue
em braços para um lugar mais de dentro?
Pergunto-me se acaso sentes o que há de encanto no amor sem sangue,
incondicional, gratuito. O que há de encanto em fazer de um estranho, à custa
de tanto amor, a pele tua num abraço. O que há de encanto em habitar sonhos
alheios, sabendo-te olhada como coisa preciosa.
Pergunto-me se sabes o quanto dói esta visão vicariante da
vida. A coragem de ser fraco na fraqueza alheia, que se quer força e
cavaleiro e lança, mas que tantas vezes vacila. Pergunto-me se sabes que a dor
que não sentes em ti é dor no outro, mas é dor também.
Sabes de uma coisa? Era ela a menina que lia romances de
amor.