sexta-feira, 12 de novembro de 2010

III

A casa era magnífica. Tinha a beleza arquitectónica que nenhuma obra moderna poderá alguma vez imitar, porque o seu grande atributo é a idade. É a beleza da pedra gasta. Da hera que lhe cobria metade do rosto de cantaria. Das janelas de guilhotina. Do ferro forjado dos varandins. De tudo o que eu não sei dizer porque não conheço as palavras.
Por dentro, os móveis de pau-santo, as tapeçarias que cobriam o soalho que tantas vezes rangia de cansaço, os lustres, os espelhos, as molduras, os dosséis e o piano, o piano de cauda que era a peça mais bonita de toda a casa. E tudo o que não sei dizer porque não conheço as palavras.
E as rosas, já me esqueciam as rosas… Sim, a senhora apreciava muito as suas rosas.

1 comentário:

  1. Elisabete,
    Já cá tinha estado a ler, mas habituei-me a alongar-me um pouquinho mais quando aqui venho, e não quis dizer duas ou três palavras de circunstância.
    Sabe que, ao ler o que escreveu, consegui visualizar com grande nitidez a menina deslumbrada no seu vestido de veludo esmeralda, a atracção pela mulher diferente de todas as outras da terra, os olhos deslumbrados dentro do palacete...?
    A sua escrita é límpida e, em simultâneo, questionadora das coisas do mundo. Quer saber, quer entender, quer absorver... E este querer já era notório na menina de vestido novo que, apesar disso, soltava os olhos ao mundo.
    A menina cresceu, hoje é mulher. Mas o olhar sedento de saber, de entender, mantém-se. Ainda bem, digo eu. Porque, mais tarde ou mais cedo, esse olhar irá ajustar contas no papel nos livros que hão-de vir...

    Beijo :)

    ResponderEliminar