sexta-feira, 12 de novembro de 2010

II

O tempo passou. Nestas três brevíssimas palavras, assenta o resumo de dias e dias da minha vida. Sempre me fascina. Gerações de vidas cabem num livro. É só isto a vida, afinal? O tempo passou e eu passando com ele. Mas devagar. Sim, nesta altura o tempo era ainda vagaroso. Hoje é o contrário. Hoje tem pressa e eu não.
A senhora não era vista na aldeia. Pouco saía. Era a Lucinda quem cuidava dos avios da casa. A Lucinda, minha vizinha que, em palavras desajeitadas, lá ia contando histórias do velho palacete, de como eram belos os jardins, e longos os corredores, e finas as louças, e muitos os quartos. Sempre muito empertigada, zelosa da sua função de zeladora.
Quando eu passava junto da casa da viscondessa, eu olhava e tornava a olhar, com o descaramento da minha mente inquieta. E um dia, depois de muitos, a senhora convidou-me a entrar.

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