quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Olímpia


Ele emergiu do poente como se fosse um deus
A luz brilhava de mais no obscuro loiro do seu cabelo

Era o hóspede do acaso
Reunia mal as palavras
Foram juntos a Olímpia lugar de atletas
Terra à qual pertenciam
Os seus largos ombros as ancas estreitas
A sua força esguia espessa e baloiçada
E a sua testa baixa de novilho
Jantaram ao ar livre num rumor de verão e de turistas
Uma leve brisa passava entre diversos rostos

Ela viu-o depois ficar sozinho em plena rua
Subitamente jovem de mais e como expulso e perdido

Porém na manhã seguinte
Entre as espalhadas ruínas da palestra
Ela viu como o corpo dele rimava bem com as colunas
Dóricas

De qualquer forma em Patras poeirenta
No abafado subir da noite
Tomaram barcos diferentes

De muito longe ainda se via
No cais o vulto espesso baloiçado e esguio
Que entre luzes com as sombras se fundia

Sob a desprezível indiferença
Não dela mas dos deuses

Sophia de Mello Breyner Andresen

3 comentários:

  1. Bela escolha, Sophia e o seu encanto pelo mundo helénico.

    ResponderEliminar
  2. Verdadeiramente um deus, sublime e perfeito e, contudo,distante e inatingível...

    ResponderEliminar
  3. Gracinda,
    Muito obrigada pelo incentivo. Eu espero que continue a acompanhar e espero, sinceramente, vir a conhecê-la melhor.

    Ana A.,
    Fico muito contente por encontrá-la por cá.

    ResponderEliminar