sábado, 14 de agosto de 2010

Digo-te adeus e como um adolescente tropeço de ternura por ti
Alexandre O’Neill

Escolhi um desses vestidos de Verão de que tanto gosto, mas que tu nunca me viste usar. Soltei o cabelo que os dedos da aragem não tardaram a despentear. Caminhei descalça na noite e, saltando de estrela em estrela, cheguei a um lugar que não sei. E que importa que não saiba, se o lugar é um pretexto, se o lugar és tu?
Despojei-me da raiva, da mágoa, do desengano e deixei somente a tristeza e a memória dos dias felizes. Tu dormias e eu fui um ladrão na noite. Com passos de veludo, aproximei-me e pousei-te um beijo na face. Talvez, no sono que dormias, o tenhas sentido como uma brisa muito doce. Talvez, quando a manhã chegar, encadeando de luz a noite que tanto amo e temo, retenhas a sensação dessa leve doçura que, por um instante vestido de eternidade, te arranhou o coração. Olhei o teu rosto cego para o que sou e, de mansinho, como cheguei assim parti.
Um dia serás para mim uma memória vaga e distante. Talvez me ria das lágrimas que verti por um amor primeiro. Talvez se conserve a memória das mãos, nunca o saberei, mas o coração vai-se vestindo de gelo e indiferença.
Vai em paz. Eu serei um viajante na noite e vou amparar-me nas estrelas, constantes e eternas, como o amor que um dia me prometeste.

9 comentários:

  1. Sensibilidade, que tanto gosto de absorver.. Senti esse viver, a brisa, o toque piano, o despojar da mágoa, as memórias... foi como se mergulhasse nalguns dos meus poemas apresentados agora num vestido em prosa, numa prosa deliciosa, adjectivada com o coração.
    Gostei muito.

    Beijinho

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  2. Fique em paz, pois certamente a escrita apazigua-a.Sensibilidade encantatória nesta prosa bem poética.

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  3. Depois de uma ausência tão prelongada voltas com toda a graciosidade.

    Tenho a sorte, a alegria e a honra de te conhecer pessoalmente, de te chamar amiga, mas tenho a certeza que quem lê estas palavras acaba por te conhecer tanto quanto eu. As tuas palavras são tão profundas e tão transparentes!

    Um beijinho à Eli, uma estrela nas noites da minha vida!

    Diana C*

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  4. É tão bom regressar a esta escrita que, mesmo na contrariedade, transpira sensibilidade e suavidade a rodos. Ah, Elisabete, que bem que trata as palavras!

    Beijo :)

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  5. JB,
    Sempre gentil no incentivo... um beijinho grande

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  6. Gracinda,
    A sua presença já se me vai tornando muito querida e necessária. Obrigada por tudo.

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  7. Diana,
    Um beijinho a ti, que me tens ensinado o valor inestimável da amizade.

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  8. AC,
    Ainda bem que veio, sabe? A sua ausência já me pesava.

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  9. EA:
    escrita sensível...foi fácil visualizar o quadro.
    gostei mt.
    beijo

    tens algo à tua espera no Em@

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