Arranco o mar do mar e ponho-o em mim
E o bater do meu coração sustenta o ritmo das coisas.
Sophia
Sentença sem retorno ou apelação. É assim que recordo o que disseste. Compreendi, embora não tenha sentido. Mais tarde sim, haveria de sentir a crueldade de cada ênfase. Mais tarde, só mais tarde… Voltei-te as costas em silêncio, disfarçando de desprezo o meu orgulho ressentido.
Quando o meu corpo morria à míngua de um abraço, eu fugi de todos os afectos e parti em busca de uma casa junto ao mar, onde a dor vazasse num infinito maior e mais além.
Conduzi por estradas de ninguém. Por um tempo de horas, dirão os relógios do mundo. Por um tempo de dor, dirá a alma revisitada. Deixei que a música tocasse baixinho no rádio. Quis por força calar o silêncio que me lembra o escuro e a solidão. Mas a canção é quase sempre de amor e a palavra faz doer. E percebi que não importa. Seja voz ou silêncio, a dor não esquece.
Uma fiada de casas junto à costa. O areal é dos jardins mais belos que já vi. Vazias no Inverno. Não me recordo de alguma vez ter visto o mar num dia de chuva. O meu olhar é virgem em tantos mundos. Quando parei o carro, as lágrimas desabaram enfim. Uma confusão de três águas benditas, a lágrima, a chuva e o mar.
Antes de entrar na casa, limpei os olhos com as mãos violentas de quem sabe que terá uma lição dura e inútil pela frente, embora hoje saiba que assim não é.
Fixei o mar cinzento com o rosto erguido. Ninguém viu, mas eu tinha o rosto erguido. Aquele mar… Aquela chuva… Aquelas estrelas que eu pressentia sob o céu pesado e encoberto… Era isto que eu teria de aprender a amar acima de todos os afectos. Afectos são promessas humanas feitas com figas na mente, afectos são infinitos perecíveis e eu sempre me rendi às eternidades.
Sendo um frequentador assíduo deste espaço, já não me surpreende a beleza que emana dos teus textos. Mas devo dizer, Elisabete, que me tocaram particularmente as palavras que hoje aqui deixaste... Parabéns!
ResponderEliminarE.A.,
ResponderEliminarHá um selo (desfio) no meu blogue à sua espera.
Beijinho
Gostava que cada comentário que aqui deixo fosse especial, único, que estivesse realmennte à altura daquilo que escreves. Mas é tão dificil!
ResponderEliminarEntão,
Deixo te sempre a admiração que tenho por aquilo que escreves.
Deixo te o meu beijinho... E desde que te faça sorrir já me sinto feliz!
E é isso que te deixo hoje!
Diana C*
Este seu texto tocou-me demasiado... demasiados momentos que me pareceram tão reais, demasiadas emoções que senti tão reais,demasiada chuva (e eu que tanto gosto dela), demasiado mar, demasiadas lágrimas...
ResponderEliminar"Quando o meu corpo morria à míngua de um abraço, eu fugi de todos os afectos..."
"a palavra faz doer", "Seja voz ou silêncio, a dor não esquece."
"...afectos são infinitos perecíveis e eu sempre me rendi às eternidades."
Há algo que não posso fazer... fugir para junto do mar, mas se pudesse... seria uma morada frequentada demasiadas vezes!
Parabéns, E.A.!Lindíssimo texto
Beijinhos
Elisabete!
ResponderEliminarA bitola está a ficar muito alta, mas tu continuas a não ter qualquer problema com as palavras. Antes pelo contrário. Será que tens um pacto secreto com elas? :)
Quando o primeiro livro sair, eu quero estar na primeira fila. Pode ser?
Beijo :)
Diogo,
ResponderEliminarEu sei que me acompanhas em silêncio, mas hoje deixou-me feliz que comentasses. Obrigada
JB,
ResponderEliminarEstou certa de que compreende, os seus poemas dizem muito mais.
Obrigada pelo selo, logo à noite responderei ao desafio. Um beijinho
Diana,
ResponderEliminarOs teus comentários são sempre especiais, não duvides. E eu sorri, como sorrio sempre. Um beijinho e muitas saudades
AC,
ResponderEliminarEu sinto que vou crescendo com este espaço...
Se esse dia feliz um dia chegasse, pode estar certo que lhe reservaria um lugar muito especial.
Texto magnífico!Tocou-me especialmente.
ResponderEliminarGracinda,
ResponderEliminarObrigada! Fico genuinamente feliz com a sua presença e incentivo. Um beijinho
Unindo os fios das palavras vais construindo um mundo que desperta em nós sentidas emoções.
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