segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O vendedor de flores


Ano após ano, nesse dia, reúne as flores que não vendeu e encaminha-se para a velha ponte. Aí se senta, aí as dispõe. Rosas, sobretudo rosas.
Pega em cada uma delas. Um gesto de delicadeza inconsciente. Como se cada flor fosse um coração humano. Como se intuísse a fragilidade…
Corta-lhes o caule e pousa-as na água. Todas as rosas, excepto uma. E elas lá vão, no suave embalo da correnteza.
Na manhã do dia seguinte, olhos tristes que se passeiem pelo rio, iluminar-se-ão por um instante. Uma mensagem de esperança. Um sorriso do deus distraído que faz do desencontro a maior marca da nossa vida. E, por um instante, olhos tristes deixarão de o ser…
Talvez no ano seguinte, os olhos tristes ainda mais tristes se passeiem por aquelas águas benditas. E, uma vez mais, as rosas virão ao seu encontro pelas mãos de um desconhecido.
O vendedor de flores levanta-se. A última flor na mão. No seu caminho de casa, escolhe uma porta ao acaso. Todos os anos uma porta diferente. E aí pousa a última flor. Com uma mensagem muito singela… “Em algum lugar, há alguém que te ama…”.
Sei-o.

4 comentários:

  1. Extrema sensibilidade, expectativa dum mundo em harmonia.
    Gostei muito.

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  2. Um texto de extrema beleza poética.
    bjinhos
    Isabel

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  3. Talvez o vendedor tenha deixado uma rosa na porta de uma jovem Elisabete e ela a tenha recolhido, quando de manhã abriu a porta para ir fazer uma das suas caminhadas onde o olhar se extasia com a verdura das árvores,com os trilhos agrestes de ar impoluto, com os rostos da natureza reflecida na água. Talvez o vendedor e a rosa sejam a própria jovem em cuja boca a palavra amor amadurece. Talvez...

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  4. Olá Eli. =)

    Decidi começar a ler o teu blog desde o início.
    É tardíssimo e estou cansado...começo a ler este texto e espevito... =) SIMPLESMENTE ADORO! UAU.

    Beijinhos

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