quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Tempestade

Hoje sou de gelo e frio.
E quero o ruído, quero a superficialidade. Quero os rostos e vozes desencontradas. Quero as palavras fáceis desses que gritam lá fora. Quero que essas palavras, ocas, vazias de pretensões de estilo ou alma, me calem. Quero que se cale a voz do sonho, quero que a calem. Quero o desengano de uma solidão ruidosa, disfarçada.
Hoje sou de gelo e frio.
E procuro o esquecimento neste lugar feito de rostos e vozes estranhas. Fujo, como um condenado que se recusa a ver e aceitar. Fujo para longe, mas até aqui a solidão me toca. O medo grita mais que todos os gritos.
Hoje sou de gelo e frio.
E o sussurro desse vento rude e grosso a não me deixar esquecer. E a lembrança de uma noite que se vai construindo instante a instante. A noite, o espelho mais duro, a solidão mais sentida, o assombro. A noite encontra-nos. Encontrar-nos-á sempre.
Hoje sou de gelo e frio.
E o maior medo está dentro de mim.

11 comentários:

  1. Procurar o conhecimento não é fácil. É necessário pagar-se por ele, passar por muitas provas. A solidão é uma delas. E o medo. Mas ambas ultrapassáveis, se a determinação for forte.
    Aliás, sem se ultrapassarem esses obstáculos o conhecimento nunca chegará.
    O conhecimento...

    ResponderEliminar
  2. Pode gritar que é de gelo que nunca acreditarei.E não acredito nesta verdade de hoje " quero ruído, quero a superficialidade. Quero os rostos e vozes desencontradas. Quero as palavras fáceis desses que gritam lá fora. Quero que essas palavras, ocas, vazias de pretensões de estilo ou alma, me calem. Quero que se cale a voz do sonho, quero que a calem. Quero o desengano de uma solidão ruidosa, disfarçada."
    Mas acredito nos espelhos da noite mais agudos que os de dia.E nos temores a sós com a nossa imagem e a nossa solidão.
    Vai ter que aprender a conviver com o gelo na sua profissão. E vai ter que ultrapassá-lo. E que médica vai ser, Elisabete, menina dos trilhos agrestes onde o céu é mais limpo e onde o gelo se esquece.

    ResponderEliminar
  3. Não tenhas medo, vai em frente. É uma "Tempestade" poética. Uma "tempestade" de criatividade.
    Estuda muito agora, pois a Rota de Santa Eufémia espera por nós.
    Bjinhos.
    Isabel

    ResponderEliminar
  4. Minha linda,
    hoje o teu ser pode ser gelo e frio... mas nao te esqueças que tens aqui algueém que, em qualquer momento, está pronta para te dar o calor do abraço, do beijo e das palavras sinceras, de forma a transformar esse gelo em água que lava a alma e esse frio em força que nos move a creditar nas coisas mais bonitas da vida.


    beijinho grande
    DianaR.

    ResponderEliminar
  5. AC,

    O conhecimento é um trilho solitário e doloroso, é verdade. Mas a Lucidez não é, verdadeiramente, uma opção, ela impõe-se-nos, tantas e tantas vezes...

    ResponderEliminar
  6. Ibel,

    Que médica serei eu? Tanto que me questiono. Vejo a minha insegurança, mas vejo também a vontade de ser capaz. A medicina é um privilégio tão grande.

    ResponderEliminar
  7. Professora Isabel,

    A dor, do ponto de vista literário, é um sentimento muito nobre. Mas na vida, a dor é uma lição inútil.
    As palavras nascem dos sentimentos. Sobretudo dos que se cobrem de tons de cinzento... Afinal, "Que história pode ser criada sem lágrima, sem canto, sem livro e sem reza?"(Mia Couto)

    ResponderEliminar
  8. Diana,

    Eu sei que sim... Saiba eu mostrar-te o que sinto...

    Um beijinho muito muito grande.

    ResponderEliminar
  9. Este texto seduziu-me, e apeteceu-me relê-lo.
    Quem escreve assim sabe que o caminho não passa pela fuga.
    Quem escreve assim sabe que os desafios que tem pela frente não são fáceis.
    Quem escreve assim está a enfrentar os seus medos.
    Quem escreve assim...
    Parabéns, grande texto!

    ResponderEliminar
  10. São de veludo as palavras,
    Daquele que finge que ama.
    Ao desengano levo a vida
    A sorte a mim já não me chama...

    Vida tão só
    Vida tão estranha
    Meu coração tão maltratado
    Já nem chorar
    Me traz consolo
    Resta-me só um triste fado

    A gente vive na mentira.
    Já não dá conta do que sente...
    Antes sozinha toda a vida,
    Que ter um coração que mente.

    Vida tão só
    Vida tão estranha
    Meu coração tão maltratado
    Já nem chorar
    Me traz consolo
    Resta-me só um triste fado

    |Rodrigo Leão_Vida tão Estranha

    "Guarda o que não presta, encontrarás o necessario"
    É preciso encontrar no caos o útil. Ao Tempo, a esse, nada se pode fazer. As coisas que aprenderes por ti, são as que mais te vincarão.

    Abraço*
    K.A

    ResponderEliminar
  11. Obrigada, sobretudo pela conversa de ontem. Em ti leio a sabedoria despretensiosa de quem fez da prova ensinamento.

    Um beijinho muito grande

    ResponderEliminar