Não adormeças: o vento ainda assobia no meu quarto e a luz é fraca e treme e eu tenho medo das sombras que desfilam pelas paredes como fantasmas da casa e de tudo aquilo com que sonhes. Não adormeças já. Diz-me outra vez do rio que palpitava no coração da aldeia onde nasceste, da roupa que vinha a cheirar a sonho e a musgo e ao trevo que nunca foi de quatro folhas; e das ervas húmidas e chãs com que em casa se cozinham perfumes que ainda hoje te mordem os gestos e as palavras. O meu corpo gela à míngua dos teus dedos, o sol vai demorar-se a regressar. Há tempo para uma história que eu não saiba e eu juro que, se não adormeceres, serei tão leve que não hei-de pesar-te nunca na memória, como na minha pesará para sempre a pedra do teu sono se agora apenas me olhares de longe e adormeceres. Maria do Rosário Pedreira |
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário