Na especialidade do faz de conta, fui doutora do ursinho. No afã das ligaduras, maleitas, miminhos e beijos milagreiros, quem acabou curada fui eu…
A menina, de olhos vaidosos de azul impossível, disse-me o nome e, depois de acrescentar três ou quatro apelidos verosímeis, remata desta maneira…
- … Arco-íris.
- Como? Arco-íris? – isto disse eu, Alice que, na volta, já não sabe de que lado do espelho se encontra.
- O meu nome é Íris Arco-íris, mas os meus amigos não sabem, eu não lhes contei…
E este dizer tocou-me e logo soube que seria o pormenor do meu dia. Não esquecerei o menino de três anos que me disse ter nove, tal era a ânsia de crescer; ou esse outro que me disse que o coração do seu ursinho estava ali mesmo, na perna esquerda (e quem sou eu para discutir a anatomia dos brinquedos?); ou até essa menina que chegou até mim com um gato de pelúcia que picara a cauda nas urtigas enquanto perseguia mil coelhos e lebres.
Sabes menina, tu tens um arco-íris no nome e pintas de cores improváveis o nosso mundo cinzento e tristonho. Todos nós temos palavras magia no nome. Às vezes, tantas vezes, esquecemos. Eu gosto de pensar que tenho luas e estrelas no nome, mas os meus amigos também não sabem, eu não lhes contei. És capaz de guardar um segredo?