quarta-feira, 21 de dezembro de 2011



Ele fala para ela e é sobre ela que lhe diz. Com a lógica fria de quem expõe um raciocínio, mas as palavras são delicadas, escolhidas até, como se a desenhasse com os dedos, mas de longe, assim de longe. 
Ela escuta sem se deixar perturbar. Ele fala-lhe dela como se falasse da personagem de um livro que o tivesse fascinado e ela escuta sem o menor constrangimento ou traço de rubor, a personagem tem o seu nome e é só. 
E quando ele se suspende, ela pede mais, com uma ingenuidade estudada ou só genuína mas velha, já não sei. E adiante perguntará como assim?, como se não tivesse entendido, mas é só a avidez que não cala e remorde. Porque a vaidade não tem fim, nascida irmã do medo fundo. O paradoxo de se ser tudo e tão pouco, caminhando em bicos de pés, mas de olhos baixos, expiando culpas. 
No entremeio, ele estica os dedos, querendo tocá-la. Ela retrai-se, o fácies tenso, agressivo, o olhar leonino, o sobressalto. 
Não é amor, é somente a sedução do impossível, a vontade de tocar o que é longe e intangível. E depois partir. E o abraço de hoje haveria de doer amanhã, mossa que ficou de uma intimidade vã, descartável. 
Diz-se da lágrima de uma sereia que é um tesouro. Buscá-la é coragem ou cobardia?

7 comentários:

  1. Elisabete,
    Sempre reconheci uma enorme qualidade na tua escrita, mas ela agora está mais segura, mais adulta, evidenciando capacidade para empreendimentos com outro fôlego.
    É sempre um grande prazer ler-te.

    Beijo :)

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  2. diz-se de todas as lágrimas
    hoje e amanhã

    depois de amanhã, não! porque é Natal

    um beijo E.A. tudo de bom para si

    manuela

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  3. Quantas saudades tinha de voltar ao teu cantinho, à tua escrita!
    Há sempre um amanhã. Procura, sim, essa lágrima de sereia.
    Um Bjinho.
    Isabel

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  4. na transparência de um abraço

    tenha um ano feliz, E.A.!

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  5. Descobri este blog há pouco tempo numa mistura de intenção e acaso. Não li tudo o que escreveste. Li apenas bastante. Este foi o melhor que li. Extraordinário, na minha leiga opinião.

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  6. Elisabete,
    Que 2012 seja, para ti, um ano de muitas conquistas.

    Beijo :)

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  7. O fascínio das palavras ditas e por dizer, a ternura envergonhada e a sensualidade contida num maravilhoso exercício de escrita.Nada está esquecido.A vida impõe pausas, também ela imponderáveis.
    Feliz 2012, Elisá!

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