sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Hoje lembrei-me que um dia vieste. Sem que to pedisse, porque nunca peço, mesmo querendo sempre e tanto. E se um dia pedir um abraço e mo negarem, hei-de forjar um sorriso que o olhar desatento entenderá como genuíno, e dizer que brincava apenas, abraço é tão quente, também não quereria. Mas queria e o que me ficará é a tristeza de coleccionar afectos extraviados. Hei-de mentir sempre e de todas as vezes.

Era noite e no quarto vazio caminhavam homens de vestes negras. A cereja na garganta crescia, prestes a desabar em lágrimas de menina. Mas tu vieste e deitaste o corpo a meu lado e encheste de ridículo todos os medos. Calaram-se os corvos lá fora e na noite abriu-se um silêncio que não era mais negro e onde cabia um sono de paz.

E depois partiste e deixaste um mundo onde cresciam bruxas e desfiladeiros. E eu só sei ser triste de tristezas inventadas, a tristeza que vem até nós verdadeira é fria e dói demais. E eu sou fraca e cobarde e fiz do meu mundo uma casa de bonecas, num mundo maior, de gigantes e intempéries.

3 comentários:

  1. nesse mundo de tristezas inventadas

    que a dor das reais é fria mas tão igual

    há uma escrita que cresce em dó maior e bonita de se ler!

    um beijo, EA

    ResponderEliminar
  2. Lindíssimo esse texto , Elisabete.

    Você precisa escrever sempre e mais, para que não se percam essa delicadeza e essa sensibilidade.

    beijos.

    ResponderEliminar
  3. Elisabete,
    Há em ti uma alma rica em delicadeza profunda, sensível aos mínimos equilíbrios. Não é, pois, de estranhar, a beleza que dela emana transcrita em palavras.

    Beijo :)

    ResponderEliminar