quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Leio e está aqui o que gostaria de escrever, como escrito pela mão de um deus. Mas eu não sinto este tanto e, mesmo que o sentisse, de que valeria expor a mesma evidência?
Sim, eu sei, a vida não tem forçosamente um propósito, mas vai-me parecendo que nasci no dia em que no universo se trocaram signos e vontades.
Ao que vim? Quanto mais é preciso crescer? Se o meu destino não é calado, então porque não se diz?
Leio e cobiço a escrita demoníaca desta mulher que faz da palavra uma orgia dos sentidos. A inveja que nasce do reconhecimento sentido do dom do outro. E, como ela, eu nasci. E, como ela, eu sinto e sangro e desatino. Mas não chego. E se chegar, de que vale, se há sempre um além maior que a vida que te foi dada?
Eu estou viva, ela já não. Só nisto sou maior do que ela. Uma grandeza temporária e sem mérito algum e, todavia, fundamental. Ela está morta, eu ainda não.
Surpreendo-me. Porque tu soubeste a morte do jeito que poucos sabem e ainda assim. Morreste e és nada. Que é da alma que dizias não poder conter? Alma: como te deixas vencer por um pedaço de corpo apodrecido?

6 comentários:

  1. Todos nós temos alguns fanstasmas interiores.
    Tudo de bom.
    Gdbeijo

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  2. E.A.
    Que texto lindo, onde as dúvidas se acumulam. Mas quem não tem dúvidas na vida? Os inconscientes, talvez. Uma lembrança gratificante e extremamente bem escrita. Parece que estamos a visualizar a pessoa querida.
    Muitos parabéns. Vale a pena passar por aqui. É um lenitivo.
    Beijinhos e bom fim de semana
    Caldeira

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  3. Texto profundamento metafísico: que é da alma que dizias não poder conter? Nas canseiras do quotidiano é um bálsamo vir ler a tua escrita.
    Bjinhos.

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  4. Uau! Que texto denso... profundamente reflexivo e poeticamente belo. :)

    Amei, querida.
    Vc, como sempre, arrasou na postagem!

    Beijos e um lindo fim de semana pra vc! :)

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  5. Penso que os mortos encerram um certo saber definitivo que em vida nos falta. O colchete fechando o intervalo. A data imorredoura da lápide. Ai, estar alforriado dos dias...!

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  6. Não é fácil comentar este texto. há muita filosofia existancialista e , ao mesmo tempo Kantiama sobre a existência. Li o discurso poétco três veves, mas demoro-me nas palavras e nas frases. Curiosamente lembrei-me da Aparição de Virgílio Ferreira, um romance que me fascinou, em que a personagem busaca respostas para a sua existência e supremacia sobre Deus, negando o determinismo:"Ao que vim? Quanto mais é preciso crescer? Se o meu destino não é calado, então porque não se diz?"
    Esta angústia do eu face ao destino é a minha grande amargura do presente maduro. A minha pergunta é outra:Ao que vim? quanto tempo me resta para deixar que me pense? Ah, esta inquietante morte do tempo que envelhece, numa alma que pede vida.

    Elisá, Sempre tão diferente e profundo!

    Beijinho

    PS. Trabalho em excesso.Mais uma década à porta...Ações de formação a acabar às onze da noite. e a vida já tão curta!

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