Leio e está aqui o que gostaria de escrever, como escrito pela mão de um deus. Mas eu não sinto este tanto e, mesmo que o sentisse, de que valeria expor a mesma evidência?
Sim, eu sei, a vida não tem forçosamente um propósito, mas vai-me parecendo que nasci no dia em que no universo se trocaram signos e vontades.
Ao que vim? Quanto mais é preciso crescer? Se o meu destino não é calado, então porque não se diz?
Leio e cobiço a escrita demoníaca desta mulher que faz da palavra uma orgia dos sentidos. A inveja que nasce do reconhecimento sentido do dom do outro. E, como ela, eu nasci. E, como ela, eu sinto e sangro e desatino. Mas não chego. E se chegar, de que vale, se há sempre um além maior que a vida que te foi dada?
Eu estou viva, ela já não. Só nisto sou maior do que ela. Uma grandeza temporária e sem mérito algum e, todavia, fundamental. Ela está morta, eu ainda não.
Surpreendo-me. Porque tu soubeste a morte do jeito que poucos sabem e ainda assim. Morreste e és nada. Que é da alma que dizias não poder conter? Alma: como te deixas vencer por um pedaço de corpo apodrecido?