quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Esta é a história da menina que vivia fazendo bolas de sabão. Soprava levemente, pois que a delicadeza era o segredo deste talento, e da argola nascia uma bola que crescia e crescia e logo se recortava e voava ali ao perto. Bolas de sabão que eram como pedaços de magia. Ou borboletas encantadas que voavam em seu redor enquanto ela abria os braços, fechava os olhos com força e fazia girar o corpo louco até se sentir tonta de alegria. Acabava por cair de joelhos no chão e esfregava com as mãos a terra no rosto, porque tudo é sensação.
Esta é a história da menina que vivia fazendo bolas de sabão e, um dia, a verdadeira magia aconteceu. As pequenas bolas de sabão eram muito frágeis, isto a menina já tinha aprendido. Estalavam de susto se embatiam em qualquer superfície dura da realidade; rendiam-se ao vento agastado que lhes gritava que saíssem do caminho. Bolas de sabão eram magia e magia não tem lugar neste mundo, mas a menina acreditava que um dia uma dessas bolas de sabão teria a força necessária para chegar aos céus. E por isso perseverava e perseverava e às tantas já se esquecia da bola de sabão que haveria de voar bem longe, mas perseverava…
No dia em que descobriu a tristeza, saiu-lhe do peito um suspiro interminável, o último sopro da infância, e com ele nasceu uma bola de sabão tão grande, mas tão grande, que mais parecia um mundo. E a menina subiu no ar envolta nesse mundo de sabão que criara. Quando chegou ao céu era de noite. A noite é o escuro, as estrelas e o luar. Pensou em levar consigo a lua quando regressasse, mas sabia, já então, que nunca teria braços para abraçar uma lua tão grande, além de que, por muito distraídas que andassem as pessoas, decerto notariam o furto… Não, o lugar da lua era aquele, de tal forma que nunca pudesse ser olhada de frente, para olhar a lua é preciso alçar a vista, erguer a alma.
Pensou então em levar uma estrela, talvez presa entre os cachos do cabelo, talvez escondida na algibeira. Ninguém repararia e para ela seria tão importante. Escolheu a única estrela de cinco pontas que havia nas redondezas. Mas quando pegou com as mãozitas o seu astro, percebeu que não podia deixar esse recanto do céu ainda mais escuro e foi então que lhe ocorreu. Levaria a estrela e colocá-la-ia ao peito, deixando em seu lugar o coração que doía.

5 comentários:

  1. E.A.
    Mais um conto maravilhoso cheio de ternura, de sonho, de esperança mas, também, de realidade. É assim a vida. Umas vezes mágica, outras serena, ainda outras, dolorosa. Quase sempre a última situa-se na realidade, o que não impede que os afectos se elevem para além da terra, para além do Mundo. Alcancem o Universo das Estrelas, da Lua, da Luz e da escuridão. É todo este emaranhado de sentimentos que faz de nós seres humanos, autênticos. Não robots, muito menos marionetas. "Não há machado que corte a raiz ao pensamento", diz o poeta. E é tão bonito quando temos a capacidade de pensar belo, harmonioso, sentimental, romântico. Mesmo que faça doer o coração, quando a dor passar, deixa o bálsamo calmante e sereno do dever cumprido. A certeza de que não passámos pelo Mundo, fizemos o Mundo, à nossa medida à nossa dimensão, mas fizémos a nossa parte.
    Muito bonito e eu, como já é habitual, adorei.
    Beijinhos e Bom Natal.
    Caldeira

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  2. Por agora, venho agradecer-lhe e desejar-lhe também um Santo e Feliz natal, cheio de saúde, paz e amor, junto dos que mais ama!

    Beijinho

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  3. Que beleza, Elisá!

    Voltarei com mais tempo. FeliZ Natal!

    Beijinho

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  4. Os afazeres do quotidiano têm-me absorvido de tal maneira que só hoje me apercebo como passa o tempo.
    Texto muito bonito, lê-se e sente-se a doçura das palavras que saem do teu teclado e saltam para o meu coração.
    Bjinhos. FELIZ NATAL.

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  5. Elisabete,
    Quando a leio, sinto sempre um afago do brilho da estrela que traz no coração.
    Um Feliz Natal!

    Beijo :)

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