segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Quase amor


Klimt


Então é assim que o amor acaba? Num breve olhar assombrado.
Eles fitam-se através de metros de gente, carros, ruídos da via pública. Fitam-se num instante que dura uma eternidade, pois o tempo faz-se de mentiras. Instantes suspensos na eternidade dos afectos, mas também a brevidade das eternidades prometidas.
Um dia, foram amantes. Nessa vida que passou, um dia era o futuro, hoje é a tristeza de uma obra imperfeita. E aqui, a prova evidente de que tudo pode ser o que é e o seu contrário. Um dia será. Um dia foi.
Amantes: a palavra que soa como segredos partilhados na calada da noite. A palavra que soa baixinho, como murmúrio de amor. Foram amantes. Nos dedos que se enlaçaram. Nos olhares que se fitaram. Nos lábios que se tocaram, rubros de desejo. Foram amantes que hoje se olham como estranhos numa história de quase amor.
“Terás esquecido as sílabas do meu nome?”. Ela sente um resquício de dor e surpreende-se, pois o que vem sentindo há dias é indiferença. Talvez uma lágrima cansada. Ainda. Se vier, calá-la-á.
“Tinhas medo que os teus dedos gelassem se tocassem o meu coração frio? Cobarde. Nunca saberás sequer que te traíste.” Ele viu lágrimas nos olhos tristes da menina branca. Lágrimas que a boca dele não bebeu e ela soube como podem ser frias as lágrimas que molham o rosto. E o amor morreu.
“Não te amei, escolhi amar-te.” Ela não o amou, escolheu amá-lo. Pediu-lhe que lhe ensinasse o amor e aprendeu o quase amor, feito de perda e desencanto.
Para eles, o amanhã será jamais. Para eles, o nunca será a derradeira eternidade.

9 comentários:

  1. Quero apenas expressar o meu desagrado com a mensagem deste texto, e a invasão de privacidade e decoro da qual ele se alimenta.

    Certamente compreenderás porquê.

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  2. A rudeza de quem assim se pronuncia, sem sequer se apresentar com um nome, isso sim é aviltante.

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  3. Love is in the air... everytime and everywhere... love is in the air (e agora estou a cantar alto o resto da música... pena não se poder pôr uma gravação disso aqui) ;)

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  4. Vim só para deixar um beijinho. "Quase amor" pode ser um amor pequeno. Depois, com mais tempo vamos falar sobre este texto que, numa leitura breve, me parece excelente.
    Parabéns
    Caldeira

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  5. E.A.
    Quero aqui solidarizar-me consigo relativamente ao primeiro comentário. O anonimato é sempre sinónimo de alguma cobardia e os cobardes não merecem comentários. Ficamos pois, por aqui.
    Quanto ao texto acho excelente a forma e o conteúdo. Por denunciar situações de ambiguidade em coisas tão importantes como são os sentimentos, próprios e do outro. Por, de forma tão elegante, apresentar uma desilusão de amor.
    Parabéns.
    Beijinho
    Caldeira

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  6. Para mim qualquer texto pode ser uma obra de arte. Há-as boas e más. Este coloco-o no conjunto das boas, porque se veste de poesia ainda que o tema seja o de um amor terminado, mas o desencanto faz parte da vida e vida sempre é poesia.

    L.B.

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  7. Penso que deixei aqui um comentário ao texto, mas verifico que ele desapareceu. Devo ter cometido algum erro.
    Em síntese, o que eu tinha dito é que procuro num texto essencialmente, a qualidade do discurso e a coerência da mensagem. Neste encontrei tanto uma como outra.

    L.B.

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  8. Já tinha lido o texto, mas depois do primeiro comentário cheguei a pensar que haveria coisas para resolver em privado, e pratiquei a abstinência. Mas os dias passaram e as coisas são como são. É que quem expõe razões, em simultâneo, de uma forma tão clara e sensível, sabe mesmo o que está a fazer. E fá-lo duma forma tão límpida que tem que ser alguém que quer enfrentar a vida olhos nos olhos.
    Elisabete, que o seu amanhã nunca seja jamais.

    beijo :)

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  9. Olá.

    Aqui, conhecendo o seu espaço lindo! Adorei tudo por aqui! Textos belíssimos, cheio de lirismo e sensibilidade.

    Sigo-te!
    Beijos

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