segunda-feira, 26 de julho de 2010

I


Ia e vinha em vagas discretas, que o mar nesta terra é comedido. Estremecias quando uma onda mais atrevida te salpicava o corpo de frio, mas não arredavas pé, firme nesse teu propósito de criança.
O lugar onde as águas e a areia se abraçam. Aí estiveste por tempos que não sei definir, porque o mar se faz de eternidades e nós, humanos, de brevidades e instantes.
Uma criança, tu criança, esperando a onda que traz e leva, para novamente trazer e levar, num bailado de repetições aparentes.
Encontraste um pedaço de uma concha azul, belíssima, perdida num punhado de areia. Tão pequeno o pedaço, tão estilhaçada a concha, que só mesmo um olhar de criança poderia captar tal brilho entre os escolhos que nos varrem os pés à beira-mar.
Perguntaste-me se gostava e eu assenti, porque era, de facto, linda. A concha, mas, sobretudo tu, criança.
Disseste-me que, para mim, procurarias os outros pedacinhos e, no fim, juntá-los-íamos.
Desta praia onde sou estranha não vou guardar as conchas de linhas perfeitas. Guardarei, antes, essa concha azul que me ofereceste em pedaços e que eu reconstruí, inteira, no lugar de dentro.

7 comentários:

  1. Elisabete,
    Mais tarde volto para comentar. Para já, tem um desafio à sua espera no meu blogue.

    Beijo

    ResponderEliminar
  2. Já há alguns dias que aqui não vinha, a vida agitou-se nestas ultimas semanas. Hoje venho pela saudade de ler o que escreves!

    Mais uma vez deixasme a rebentar de orgulho do talento que é só teu.

    Para mim que sou afortunada nas minhas crenças as tuas palavras fazem todo o sentido. Mas isso é para mim que conheço um bocadinho dessa alma tão profundo.

    Um beijinho para a Eli, de quem já sinto a falta*

    Diana C*

    ResponderEliminar
  3. vim pelas mãos do AC. E não estou minimamente arrependida por satisfazer a minha curiosidade.
    gostei muito da sensibilidade deste texto.das imagens bonitas que utilizaste e da escrita clara.
    prometo voltar para ler mais.no entretanto, penduro-me ali nos seguidores.
    muitos parabéns e um abraço.

    ResponderEliminar
  4. É impossível ficar indiferente ao vai e vem do oceano,ao movimento infinito e não sentir o seu pulsar neste texto de suavidade que só uma alma como a tua consegue escrever. Bebe todo o sol, todo o azul, todo o branco do Sul que noutros momentos servirão de alento. Um bjinho.

    ResponderEliminar
  5. "Encontraste um pedaço de uma concha azul..."
    "Disseste-me que, para mim, procurarias os outros pedacinhos e, no fim, juntá-los-íamos."
    "Guardarei, antes, essa concha azul que me ofereceste em pedaços e que eu reconstruí, inteira, no lugar de dentro."
    A construção da vida, um sentido para as coisas. A alma, essa, permanece em alerta máximo. Porque quer tudo por inteiro.

    Beijo

    ResponderEliminar
  6. AC,

    Irei responder ao desafio.

    Diana,
    Tenho sentido a tua falta neste meu cantinho, mas sei que as últimas semanas foram complicadas. Espero que o exame tenha corrido bem e que aproveites as férias que tanto mereces.
    Obrigada por teres vindo

    Em@
    Seja muito bem vinda a este espaço. Obrigada pelas palavras gentis que me deixou. Também irei visitar o seu blog. Um beijinho

    Professora Isabel,

    As férias estão a chegar ao fim. O olhar vai-se enchendo de azul... Um beijinho e até breve

    ResponderEliminar
  7. Editar Ibel disse... Elisabete,que especialidade gostaria de seguir? Eu vejo-a no fora da psiqiatria ou da pediatria.Os seus textos são de foro psicológico profundo, de quem sabe olhar para si e para os outros.E também de quem gosta de crianças e do que elas simbolizam.Tudo que escreve é como um olhar da alma ao espelho, naquilo que ela tem de estranho e insondável. Por isso,adorei a forma como termina"Guardarei, antes, essa concha azul que me ofereceste em pedaços e que eu reconstruí, inteira, no lugar de dentro."

    ResponderEliminar