quarta-feira, 3 de agosto de 2011

(Antes de vir, por dias me rondei. Era medo. Do desencontro, talvez.)

Choveu, escutam-se as rodas nervosas no asfalto molhado e, nos entremeios, um silêncio gordo que é uma espécie de zumbido que se desenha em espirais.
Pergunto-me quem são e se acaso já olharam a noite de frente. Eu não. Espreito-a e temo e cobiço. E é a ela que vendo a minha intimidade.
E pressinto-a. A tristeza em mim não é sentida, é pressentida, entendes isso?
A noite. Tal como a música, entra-se em mim e entranha-se e quando o dia romper no alvoroço de uma luz muito branca, talvez persista ainda o desajuste.
O sono é o remedeio. Mas às vezes, até aí a lucidez se vence. E então abro os olhos e há um corpo deitado a meu lado. E então os olhos ardentes fixam as órbitas vazias de um olhar assombrado. É o medo.

9 comentários:

  1. a ronda da noite

    Agustina sabe do que fala

    seja bem vinda agora que me vou embora, mas por pouco tempo

    é Agosto

    um beijo

    manuela

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  2. Ontem escrevi um texto parecido com este que enviei a uma amiga.Não sei o que motivou o seu: se a ficção, se o real. O meu medo é mesmo real, Elisabete e anda comigo 24 sobre 24 horas.Talvez um dia fale dele ou não tenha tempo para isso.
    Texto belíssimo pontuado de emoção poética. Nunca se esqueça deste conselho: não deixe nunca de escrever.
    Beijinho, petite elisá!

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  3. Elisabete,
    Temos períodos de desalento ou, pelo menos, de motivação reduzida. Foi bem voltar a vê-la, a sentir o seu sentir. Força e continue a deliciar-nos com textos maravilhosos como a Elisabete sabe afzer.
    Beijinhos.
    Caldeira

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  4. Que profundo! Li mais de uma vez pra ter certeza que o que sentia ao ler não era mesmo real, pois mexeu comigo de um jeito... deu medo!
    Lindo...

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  5. E.A.,
    Ler a foto que escolheste para o perfil e ler teu texto, pela coincidência, fundo ambas as leituras numa só. Tristeza pressentida…, assombro, medo? O desenlace do meu raciocínio não é nenhum, é o laço e está na foto. No texto a noite, a música, uma luz muito branca… A essa luz vendo a intimidade que ela não ilumina, não a consigo vendar, olhos acesos… Vou assumir o sono e sumir, a madrugada está a chegar, vou deitar. Um remedeio? A lucidez vence, acaba, sai de prazo, rasa o silêncio «uma espécie de zumbido que se desenha em espirais»? Já senti(a) saudades!

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  6. Resta-nos a lua cheia, a pupila cega da noite, com seu sol intempestivo e branco, para dissuadir as sombras. Olho-a de frente. A noite. É ela que não me vê. Decerto tem medo de mim, que, invisivelmente a habito. Embora existir dentro dela faça tanto ruído.

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  7. A noite vem mistoriosamente medonha, mas há outro proveito pra tanta incerteza, tudo pode acontecer. Sendo escura a noite, ninguém há de saber :O) Tenho um texto que fala dessas coisas, mas não lembro qual... Adorei as imagens desse texto.

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  8. Bonito texto. Com a devida vénia coloquei-o lá na Casa.

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