segunda-feira, 25 de abril de 2011


Se eu, escrevendo, disser que amo, não saberás quem ama, se eu, se a minha vontade.
E nada lerás no meu olhar, senão a agressividade de um animal acossado. O homem pediu-me que não o olhasse daquela maneira. Eu não sabia e constrangeu-me que me tomasse como assaltante. Desde então aprendi a baixar o olhar como quem esconde um pecado.
Digo eu. Digo ela e pensarás que é narciso disfarçado.
Eu não sei. Às vezes, até a mim os véus me confundem. É que o jogo de espelhos pode ser muito perverso. E se tentares fugir, caminharás durante longo tempo e quando parares para recobrar o fôlego, julgando estar longe longe, terás dado a volta ao mundo e estarás um passo ao lado do sítio de onde partiste. Com o amor e o ódio deve ser assim também. O círculo à imagem de deus.
É um círculo. A recta que uniu as pontas num redondo perfeito. Não procures encontrar-me lá, limita-te a aceitar que o círculo é meu e assim me confesso. Mas lembra-te, mais do que uma verdade, a escrita é uma mentira que cobiço.

13 comentários:

  1. Elisabete,
    Mais um bonito texto. Uma metáfora que pode ser aplicada ao 25 de 1974. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mas fica-se sempre muito próximo do ponto de partida. Anda-se em círculo de forma a não se chegar a lado nenhum. Muito bonito lido sobre qualquer ponto de vista.
    Beijinhos
    Caldeira

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  2. Bela liberdade (a) do criador! Aliás, lilás!... É (a) Liberdade que torna o homem criador, ele cria quando é livre de criar. Nem constrangido, nem obrigado, ele liberta-se. Esta liberdade não é natural, ninguém se liberta estando livre. Então o criador tem de devir “artista”, é aqui que nasce a Arte. Este conceito tão valioso quanto o que, em nome dele, o Homem está disposto a pagar. Impagável teu texto, digno de celebrar, de cantar, de…, por mim, ser visto como um hino ao dia de hoje. Beijos
    (a) O artigo definido feminino, menina, é esse ninho onde o Homem descobre e descobriu (o) seu caminho. Parabéns!

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  3. ea,
    o homem raramente é a sua vontade e nunca esta é a sua verdade. ainda assim, e apesar de falso estandarte, persegue-a como o fogo por prometeu ou a escrita pelo poeta. pobre daquele que a veste como derradeiro destino. admirável o teu texto!
    beijinho circular, querida amiga!

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  4. e cobiça-a, à escrita

    de uma forma que nos toca, um redondo perfeito

    entre quem lê e a Elisabete, que escreve

    muito bonito!


    um beijo

    manuela

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  5. Olá.
    Como podes verificar não me esqueci de deixar um comentário no teu blog como tu te esqueces de dizer bom dia ao pessoal. =)=)
    Devo-te uns parabéns. Os teus textos estão muito bem escritos e não me admira que num futuro recente tenha de pagar para poder ler textos teus. =)=)=)=)=)
    Que mais posso dizer? Continua, estás no bom caminho. =)
    (Cá entre nós, estou convencido que um dia vais escrever um texto um pouquinho mais alegre que o teu normal.=)
    Beijos

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  6. Querida Elisabete...

    O jogo dos espelhos é mostrar que temos duas almas: a que olha de fora para dentro e a que olha de dentro para fora.Difícl, mas decisivo escolher...

    beijos, linda!

    E obrigada pelo carinho e pela presença no Desassossego.

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  7. Uma maravilha tão profunda e tão plurissignificativa que daria pano para mangas para ficar aqui a escrever toda a tarde.

    Beijinhos, Elisá.

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  8. Elisabete,
    Leio os comentários anteriores e invade-me uma onda de satisfação. É normal, pois tenho por aqui assistido à forma como tens crescido, crescido...

    Beijo :)

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  9. E.A.,

    Por vezes o espelho reflecte o que queremos ver e é difícil, embora essencial, vermos o que não nos mostra...
    Penso que também há assim pessoas que vêem nos outros o que simplesmente querem ver e não o que realmente são...
    Escrito desta forma, o seu texto não precisa de ser "visto", porque ele transparece a beleza do conteúdo que sentimos ao lê-lo...

    Beijinhos

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  10. Cada vez melhor... Para qunado um conto (um daqueles contos verdadeiros.. que começam com "era uma vez...")? Era uma prenda que davas ao teu amigo,
    beijos

    Nuno Carvalho

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  11. Muitas vezes voltei aqui para ler tua mais transparente mentira, o véu através do qual te mostras, segura, sob o disfarce de pareceres outra, de te revelares vária. Luz indivisa, sob o prisma das palavras.

    De todas as vezes soube que eras tu.

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  12. O labirinto de espelhos: a mentira cobiçada têm origem na verdade que se realiza...a ilusão é que ela nos toca( a escrita / mentira ), sem que possamos tocá-la...essa é a grande dor.

    Beijos carinhosos!

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  13. Sereno, me fez imagens mentais aqui...


    vou seguindo..

    abraços poéticos

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